Sobre

A Casa do Povo

A Casa do Povo é um centro cultural que revisita e reinventa as noções de cultura, comunidade e memória.

Habitada por uma dezena de grupos, movimentos e coletivos, alguns há décadas e outros mais recentes, a Casa do Povo atua no campo expandido da cultura. Sua programação transdisciplinar, processual e engajada entende a arte como ferramenta crítica dentro de um processo de transformação social. Sem grade fixa de programação e com horários flexíveis, a Casa do Povo se adapta às necessidades de cada projeto, de forma a atender tanto associações do bairro quanto propostas artísticas fora dos padrões. Seus eixos de trabalho (memória, práticas coletivas e engajadas, diálogo e envolvimento com o seu entorno) são pensados a partir do contexto contemporâneo em relação direta com suas premissas históricas, judaicas e humanistas. Nessa empreitada, o público não é alvo, mas participante ativo que, além de visitar, também propõe atividades fazendo do espaço um local de encontro, de formação e de experimentação: um monumento vivo, um lugar onde lembrar é agir.

Monumento Vivo

Para conhecer a longa história da Casa do Povo, é preciso frequentá-la. Os audioguias disponíveis no espaço funcionam como uma boa introdução para conduzir os interessados pelos espaços do edifício e pelas ruas do Bom Retiro. De forma geral, todas as atividades tornam presente a história da formação da instituição.

Fundada a partir de uma associação cultural sem fins lucrativos logo após a Segunda Guerra Mundial, em 1946, a Casa do Povo foi erguida pelo esforço coletivo de uma parcela da comunidade judaica então chamada de “progressista”, originária da Europa Oriental, politicamente engajada e instalada majoritariamente no bairro do Bom Retiro. O espaço nasceu de um desejo duplo: homenagear os que morreram nos campos de concentração nazistas e criar um espaço que reunisse as mais variadas associações que tinham nascido aqui, na luta internacional contra o fascismo – visando assim dar continuidade à cultura judaica laica e humanista que o nazi-fascismo tentou silenciar na Europa. Esse desejo duplo se concretizou na inauguração, em 1953, da Casa do Povo como um monumento vivo, lugar onde lembrar é agir. A tradução dessa ideia foi materializada na construção de um prédio moderno, projetado pelo então jovem arquiteto Ernest Carvalho Mange. Os amplos salões dos andares são espaços maleáveis que se adaptam a diferentes usos. Em 1960, no subsolo do edifício, foi inaugurado o Teatro de Arte Israelita Brasileiro, o TAIB, desenhado por Jorge Wilheim com murais de Renina Katz, boca de cena de Abrahão Sanovicz e painéis de Gershon Knispel.

Não apenas memorial, não apenas centro cultural, o edifício acolheu o Ginásio Israelita Scholem Aleichem (GIBSA), grupos de leitura, grupos de teatro amador e de teatro ídiche, uma biblioteca, o clubinho Kinderland, reuniões do comitê editorial do jornal Nossa Voz, associações de bairro, assim como o Teatro Popular do SESI, peças do Teatro de Arena, de autores como Plínio Marcos, Gianfrancesco Guarnieri, Augusto Boal, shows do MPB4, aulas de Lygia Fagundes Telles, lançamentos de livros, entre tantas outras atividades que marcaram as vanguardas da época. Durante a ditadura civil-militar, a Casa do Povo se firmou como lugar de resistência cultural e política. Enquanto filhos e filhas de perseguidos políticos estudavam na escola com bolsas e nomes falsos, muitos espetáculos encenados no TAIB foram censurados e, alguns professores, presos e torturados. A instituição sobreviveu aos anos de chumbo mas, a partir dos anos 1980, enfrentou uma crise institucional que acompanhou o relativo declínio da região central de São Paulo. Porém, no final dos anos 2000, a Casa do Povo iniciou um projeto de renovação com o objetivo de dar continuidade aos ideais de seus fundadores. Voltou à cena cultural da cidade e tem se firmado como um dos poucos espaços que desenvolve, abriga e incentiva práticas artísticas focadas no processo, na experimentação e na transdisciplinaridade, estabelecendo estreita relação com seu bairro e seu passado. A missão da instituição pode ser descrita hoje a partir de uma referência à sua história, recorrendo-se ao emprego de três palavras em ídiche, língua falada pelos migrantes judeus da Europa do Leste que fundaram essa casa em meados do século passado.

Gedenk [memória]
Lugar de memória viva, no caso, da instituição, do bairro, das migrações e das resistências.

Farain [associação]
Plataforma em torno da qual se agregam iniciativas coletivas diversas, artísticas ou não.

Tsukunft [futuro]
Espaço que traz o futuro para o presente, desenvolvendo práticas experimentais.

Ao longo desses anos, a Casa do Povo construiu um arquivo composto por mais de 4 mil livros, centenas de fotografias, objetos e documentos que contam parte da história cultural da cidade, do Bom Retiro, da imigração judaica, da resistência à ditadura e da cultura ídiche. O acervo é aberto a pesquisadores e interessados mediante agendamento prévio feito pelo e-mail info@casadopovo.org.br.